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Beth Begonha sendo recebida no Alto Xingu (MT). Agosto 2007. Foto: Isaac Amorim |
“Alô,
alô, chegou a hora/ chegou à hora do auê/ canto eu canta meu povo/ quero ver
cantar você.” É assim, ao som da música Chegou a Hora, composição de Paulo Onça
e George Jucá, na voz de Felicidade Suzy da Costa, que Beth Begonha coloca no
ar, diariamente, o programa Amazônia Brasileira, pela Rádio Nacional da Amazônia das 08h ás
10h. A música é como se fosse um tempo para o ouvinte aumentar o volume do
Rádio e chegar mais perto para ouvir uma voz que fala com o povo da floresta.
Vinhetas do programa "Amazônia Brasileira" (2012)
Vinhetas do programa "Amazônia Brasileira" (2012)
A primeira edição do Amazônia Brasileira,
foi ao ar em 1º de setembro de 2003. O programa foi criado dentro das
comemorações dos 26 anos da Rádio Nacional, que naquele ano reestruturou o seu
Plano Editorial dando maior ênfase a população amazônida em sua programação.
A
criação do Amazônia Brasileira
Na apresentação do programa Beth
Begonha traz para os ouvintes suas experiências frente às câmeras e aos
microfones. Nascida em Brasília, aos 15 anos, se muda para Porto Velho (RO),
onde um ano depois, em 1981, começa a sua carreira na comunicação, como
locutora integra a primeira equipe da Rádio Nacional FM de Porto Velho e da
Rádio Nacional Ondas Tropical, recém
implantadas pela Radiobrás, hoje EBC. Nessas emissora, ainda, produziu e redigiu programas e
noticiários. Passou pela TV Nacional de Porto Velho, onde foi repórter e
apresentou o programa infantil Du-vi-do-dó. Paralelamente, trabalhou com
publicidade, em campanhas políticas.
Em 1987, já formada em Jornalismo, Beth deixa Rondônia
e vai morar no Rio de Janeiro, trabalha no jornal institucional da Vale do Rio
Doce, passa pela Rádio Globo FM, apresenta o telejornal
local, no Sistema Brasileiro de Telecomunicação (SBT), o SBT Rio de Janeiro, e
apresentou o programa musical Rio In Concert, na TV Rio. Anos mais tarde de
volta a Brasília, passa a trabalhar na TV Nacional, onde apresenta o Repórter
Brasil e o Jornal Nacional.
No inicio de 2003 a jornalista passa a
integrar a equipe da Rádio Nacional da Amazônia, como produtora, e assim começa
a construir o projeto do que seria o programa Amazônia Brasileira. “Um programa
que juntasse toda essa minha vivência e capacidade de análise, inclusive da
situação geopolítica interna do país, as diferenças regionais, a valorização de
cada cultura... Cada quadro foi pensado dentro desse contexto amplo de visão
que pude ter, como vivente da Amazônia, como profissional da Amazônia, depois
na “meca" do rádio, no "sul maravilha", todo esse entendimento
sobre culturas, a questão do meio ambiente, enfim, tudo que eu fiz, e tudo que eu vi, o que aprendi, está nos
quadros do programa”, assim Beth Begonha narra o processo de concepção do
projeto do programa que apresentou a direção da Rádio Nacional da Amazônia.
Desde o início o programa é produzido e
apresentado por Beth, com co-produção de um estagiário. O primeiro co-produtor
do Amazônia Brasileira foi Daniel Costa, e ao longo dos anos, outros nomes como
Anna Virginia Souza, Aline Hanriot, Leandro Aislam, e Vera Ataídes, integraram a equipe.
Nos seus primeiros dois meses,
enquanto se estruturava, o programa contava com apenas uma hora de duração,
veiculado das 09h às 10h. Em seguida passou a iniciar suas transmissões às
08 da manhã, com quadros educativos ligados a história, lendas, e a cultura da
Amazônia e contava ainda com a participação de repórteres da Amazônia.
Com
passar dos anos alguns quadros deixariam de existir, em função do número
de pessoas envolvidas com o programa. “Infelizmente
alguns quadros do Amazônia Brasileira jamais foram ao ar, porque, para que ele
pudesse ser tudo que está no projeto precisaríamos ser uma equipe. Na verdade,
a equipe sou eu e um ajudante temporário, no caso um estagiário, o que torna
impossível a realização de todos os quadros e entrevistas com a qualidade e a
responsabilidade das quais não abro mão”.
E com as mudanças o Amazônia Brasileira
precisou se reestruturar. “Optei então por fazer um programa mais simples,
porém muito conciso, com pautas mais elaboradas, até porque as demandas
começaram a chegar, algumas envolvendo fatos graves”, conta Beth. Desde então
programa atende os ouvintes através de cartas, e-mails e diariamente leva ao ar
duas entrevistas com temas ligados a realidade e ao cotidiano da população da
Amazônia Legal, nos quadros “Eu Quero Saber, Você Perguntou e o Amazônia Brasileira
Responde”, “Juntando Forças, é o Amazônia Brasileira de Mãos Dadas com a
Sociedade por um Brasil Melhor” e o “Cuidando de Você, Dicas de Saúde, Higiene
Pessoal, Alimentação e Tudo que Melhore Nossa Qualidade de Vida”.
Eu
sou da Turma da Floresta
Uma das principais características do
Amazônia Brasileira é a relação que ele consegue estabelecer com os ouvintes.
Em 2005, Beth Begonha inova com uma promoção que continua valendo até hoje, “Eu
Sou da Turma da Floresta", em que se forma uma grande corrente de amigos
da natureza. “Tendo eu mesma vivido na Amazônia, tinha plena consciência de que
precisava envolver a população com a questão do meio ambiente, não como um tema
fora, mas como algo intrínseco da vida de cada um. Então me veio à idéia de propor
que cada um/a fosse um ser da floresta, a própria pessoa, como tu é Tucano,
outro é vento, outro é rio, outro é peixe, e que cada um se envolvesse com a
questão”.
E assim cada ouvinte que escreve para o
programa, ou os estagiários que passam pela co-produção se propõe a ser um
elemento da natureza. A jornalista Beth Begonha
é a Beija-Flor, a atual produtora Vera Ataídes é uma fruta do estado do
Pará, a Mangustin.
A comunicação
consequente do Amazônia Brasileira
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Ashaninka tocam e cantam ao vivo no Amazônia Brasileira. |
Formada em Jornalismo em uma cidade da Amazônia, Beth conta que passou por condições adversas e sua história serve de motivação para pautar a educação no Amazônia Brasileira, e incentivar os ouvintes a voltarem à escola. “Estudei e concluí meu curso universitário com muito esforço, e acho que esse testemunho, também é elemento forte nesse incentivo, que teve tantos e tão lindo resultados”.
Kattya Regina foi uma dos muitos ouvintes que tiveram o rumo de sua história mudado, graças ao trabalho do Amazônia Brasileira. Kattya conta que em 2004, quando o programa tinha apenas um ano, ao ouvir uma mensagem lida por Beth, teve a consciência de que sua história poderia ser diferente. “A mensagem, na íntegra, não me lembro, mas dizia que nós podemos sonhar e realizá-los, só depende do tamanho da nossa vontade e determinação”.
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Kattya Regina e Beth Begonha, nos estúdios da Rádio Nacional da Amazônia, 2006. |
Moradora do Assentamento Mutum, em Brasilândia, Mato Grosso do Sul, depois de 14 anos longe de uma sala de aula Kattya decide voltar a estudar, e para isso teve que enfrentar muitas dificuldades. “Peguei muita boleia de caminhão para estudar. Pra sair daqui não é fácil. Estamos no meio do nada, e não é literalmente falando. Pra sair na BR-262 são 70 km de muita areia e barro para depois andar mais 50 km até a cidade de Água Clara”.
Estudando aos fins de semana Kattya Regina concluiu a graduação, em seguida fez pós-graduação em Educação Integral e Integrada, e enquanto se prepara para um Mestrado em Educação Ambiental cursa Administração Pública, e ela lembra que tudo isso começou graças ao Amazônia Brasileira. “Minha vida mudou totalmente com uma única mensagem que ouvi lá atrás e que não esquecerei jamais”.
As histórias dos ouvintes que tem a sua vida mudada com a contribuição do Amazônia Brasileira se repetem. José Carlos Martins, de Tupã (SP), conta que aos 40 anos trabalhando e estudando a noite conclui o ensino médio, e sem muitas expectativas entrou em depressão. “Não conseguia dormir durante o dia fui ouvir algo na internet ai entrou a Beth na minha vida também falando de estudo qualificação dando aquela força já não estava sozinho com o Jaime [Jaime Consptein na época apresentava o programa o Brasil na Madrugada, na Rádio Gaúcha de Porto Alegre (RS) e também falava da importância da educação] e minha esposa na qual me deu grande força”.
José Carlos ouvinte de Tupã (SP) |
Frente à valorização da identidade cultural, o Amazônia Brasileira faz um
trabalho inédito, inseriu os povos indígenas na pauta do programa, abrindo um
espaço que valoriza esses brasileiros. Na trilha sonora do programa além do que
é sucesso do momento, os ouvintes tem a oportunidade de ouvir músicas que são
produzidas no interior da Amazônia. “Essa aproximação gerou uma outra relação
dos ouvintes com as populações indígenas, aumentado a empatia e o respeito por
sua cultura. Também eles, os índios, abraçaram o Amazônia Brasileira, que
sinceramente, eu acho que é o mais querido pelos nossos povos indígenas”, conta
Beth.
Essa relação com a população indígena
levou Beth a visitar a Parque Indígena do Xingu, em 2007, onde fez a cobertura
da visita Ministro da Justiça,
Tarso Genro. “Nosso programa é andarilho e já foi transmitido em situações bem,
como direi, corajosas, do meio da floresta, do acampamento indígena em
Brasília, de vários encontros que trataram da biodiversidade da Amazônia,
incluindo a cultural. Essa é outra de nossas características, ir onde o povo
estar”, destaca a jornalista.A ultima transmissão do Amazônia Brasileira fora dos estúdios aconteceu dos dia 18 a 22 de junho de 2012. Durante a realização da Rio+20, o programa foi transmitido direto do Rio de Janeiro, sede do maior evento sobre o meio ambiente da última década.
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Tuwe Huni Kuin, Beth
Begonha e Vera Ataídes,
nos estúdios da Rádio Nacional da Amazônia
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Rádio Nacional da Amazônia - Amazônia Brasileira (24.08.2012)
Os ouvintes tem participação ativa no Amazônia Brasileira, e de diferentes fmaneiras, através de cartas, pelo telefone e pela internet. Sugerem temas para entrevistas, propõem assuntos para comentários, além de mandar os seus alôs fazem seus pedidos musicais. “Esse espaço do rádio popular também está no projeto do programa, na sua linguagem, para que pudéssemos falar sobre temas complexos, mantendo ao mesmo tempo uma linguagem simples e o modelo de programa popular na sua forma de execução, já que falamos para gente muito simples do interior desse Brasilzão”.